quarta-feira, 30 de outubro de 2013

alegoria da caverna de black rock city

depois de quase um ano de espera e expectativa, lá estava eu cruzando o estado da califórnia em direção ao deserto que mudou a minha vida.
depois de quinze horas dirigindo uma caminhonete com duas bicicletas penduradas rumo ao inesperado,  bateu um sentimento que nunca havia dado as caras: uma mistura de calor e frio, borboletas fazendo uma rave no meu estômago, medo do desconhecido e uma vontade de largar tudo e sair correndo sem olhar para trás rumo ao burning man. ao me aproximar do deserto, a ansiedade apertava e o medo começou a me consumir; o que me confortou - e sempre conforta - foi olhar para o lado e lembrar que estava muito bem amparada pelo meu maior companheiro de aventuras.
e finalmente, chegou a hora de cruzar para outra dimensão. a partir do momento em que colocasse os pés para dentro de black rock city, a matita do batom pleto que você - talvez - conhece, não seria mais a mesma.
sabe quando você tenta descrever o sentimento de estar apaixonado? é tipo isso que estou sentindo ao escrever esse texto. uma vontade louca de chorar e sorrir ao mesmo tempo. 

o burning man foi uma experiência de outro mundo. colocou o meu emocional a prova durante todo o tempo; mostrou que quase tudo que eu acreditava até então, era mentira. abriu os meus olhos para depois de 21 anos, poder enxergar a vida e as relações humanas pela primeira vez. um ambiente em que dinheiro não tinha valor algum, me ensinou não só a dar, mas a receber - percebi que seres humanos tem muita dificuldade em se permitir a coisas simples como receber um elogio ou um abraço. e principalmente: não esperar nada em troca e de ninguém, mas com a 
consciência que estava rodeada de mais de 65 mil pessoas do bem unidas por apenas um motivo: celebrar a vida em uma sociedade utópica e perfeita, em que todos são iguais e ninguém se importa com absolutamente nada. 


black rock city deu um tapa gostoso na minha cara; toda essa experiência bizarra e incrível, não permanecerá somente em um álbum de fotos ou na minha memória, e sim em uma dimensão bem mais profunda do meu corpo que achava que até então, não existia. é como se tivesse um piercing do burning man no coração.
minha experiência no deserto assimila-se com a alegoria da caverna de platão, sabe? em que todos vivem em uma caverna escura e aprisionados, sem saber que existe um mundo real do lado de fora. basicamente, o burning man me liberou dessa condição de escuridão que me encontrava. 
a sensação que eu tenho de ter voltado ao “mundo real” e tentar retratar o que sinto, o que vivi e como a vida é bonita, é a mesma que o homem que conseguiu se libertar da caverna no conto de platão teve ao cogitar voltar para alertar os que ainda viviam na escuridão. ninguém nunca vai acreditar a não ser que vivencie, ou pior, no caso do burning man, vão perguntar se eu estou sob efeito de drogas.
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